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Será que sabemos amar?


Nós somos uma geração que não quer relações. Partilhamos tantas imagens a dois, tantos vídeos do que para nós seria uma relação amorosa perfeita. Focamo-nos tanto na perfeição que nos esquecemos do que realmente torna uma relação única: a sua imperfeição.

Focamo-nos tanto em querer parecer, do que realmente em ser. Mas, depois, questionamo-nos: o que faz deles um casal perfeito? Ou como conseguem estar juntos à tanto tempo? Nós queremos os benefícios, sem esforço. Nós somos a geração que inventou o amor, na sua vertente mais pobre. Com um deslizar de tela, uma cama e palavras vazias. Nós queremos amor sem saber amar. Nós queremos voltar para os braços um do outro, mas preferimos mandar indiretas nas redes sociais, em vez de engolir o orgulho, percorrer as ruas e dizer um: “eu amo-te!”

Quando finalmente o amor acontece, amedrontamo-nos, fugimos… Como se fosse a pior coisa que nos poderia acontecer. E depois voltamos à nossa rotina, solitária… sempre à procura do que não existe. Porque o amor não se inventa, não se escolhe, muito menos foi feito para ficar preso em várias fotografias numa galeria do Instagram. Mas se sair bem na fotografia, porque não?

Nós exigimos tanto dos outros porque vemos nas redes sociais como uma relação deveria ser, porque aquele padrão é o bonito. Preferimos estar sozinhos a ter uma pessoa que não corresponde ao nosso alto padrão. Procuramos tanto uma pessoa que nos faça feliz, sem vermos que temos de ser nós próprios a fazer-nos felizes. A nossa felicidade não pode depender de outra pessoa… ela tem de partir de nós.

As redes socias acabaram por nos trazer tantos padrões que a sociedade nos impõe que acabamos por não conseguir ser felizes… Porque não somos magras demais, ou musculados demais, porque os nossos dentes não são direitos nem têm cor de tinta branca.

Disperdíçamos a nossa energia, perseguindo algo que não passa de filtros e frases bonitas, em vez de apostarmos no que realmente está à nossa volta. Não podemos amar alguém, sem nos amarmos primeiro.

Tornamo-nos ainda mais imperfeitos, descartamo-nos. São corpos com necessidades fisiológicas. Banalizamos tanto o sexo que custa a ver para além disso. É isso, dois corpos e uma cama. Pouco mais. E quando pensas que finalmente encontras alguém, ele/a vai embora, porque dá trabalho conquistar uma relação.

Ou das duas uma: ou não estamos preparados para amar, ou não nos amamos a nós próprios para poder amar outra pessoa. Porque não acredito que o sexo seja tão bom assim sem haver química intelectual. Como podemos nos apaixonar, se os nossos olhos olham em direção a um ecrã, em vez de grudarem nos outros?

Não acredito que o sexo seja tão bom vazio. Não acredito que seja tão bom como ser encostada à parede e ouvir um: – “tu és minha”. E veres refletido nos olhos que ele, realmente, te deseja. Saberes o que alguém quer com um simples olhar, telepatia. Vamos substituindo esse instinto felino por uma SMS a dizer: “na tua casa ou na minha?”.

Depois existe a dificuldade de distinguir o amor do hábito. O hábito toma conta das relações porque não sabemos reinventar. Dia 14 de Fevereiro foi invadido por dedicações. Quantos de nós sentimos pena por aquelas pessoas que estão num relacionamento cuja a conquista se resume num dia do ano ou em tentativas de likes nas redes sociais?

Será que esse também é um dos motivos pelo qual existe tanta traição e tanta relação hipócrita? Damos aquela pessoa por adquirida e o jogo estagna? Este jogo que é a sedução, onde mentalmente e fisicamente testamos os nossos limites. Mas somos tão comodistas e egocentristas que não sabemos as regras. Ficamos do lado de fora, do que realmente torna uma relação intensa. Já não temos capacidade de nos reservar, de nos redescobrirmos ao lado da mesma pessoa? O difícil não é conquistar, o difícil é conquistar a mesma pessoa todos os dias.

O amor deveria ser borboletas na barriga. Não um lençol desajeitado, um match no tinder e um copo meio vazio.

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